sábado, 19 de abril de 2008

«Uma colher de papa e…ó-ó»

Hábitos nos bebés

Eduard Estivill é pediatra e neurofisiólogo com vários anos de experiência em alterações do sono e responsável pela criação de um método denominado pelo seu apelido, método Estivill (...)

Quando não resulta

Este método ou outros na mesma linha podem ser um guia para muitos, mas pode acontecer que os pais tenham um bebé que não se habitue nem a ele nem a nenhum dos conselhos que são dados. Nessa altura é preciso ter atenção para não entrar em pânicos desnecessários ou então para não se sentir pressionado por frases como «estás a habituá-lo mal» ou «isso são tudo manhas, tens é de o pôr na linha».

Pedro Caldeira da Silva, pedopsiquiatra e responsável pela Unidade de Primeira Infância do Hospital D. Estefânia, lida muitas vezes com as preocupações dos pais relativamente a filhos com hábitos que «fogem da norma» socialmente imposta. Para o médico, a primeira coisa que os pais devem ter em mente é que possuem «competências parentais intuitivas» muito para além das receitas e palpites que lhes possam dar. Outra é que todos os bebés são diferentes e que o que resulta para uns pode não resultar para outros, sem que isso constitua um problema. E com isto quer dizer que para muitos bebés a solução pode passar por dormir na cama dos pais ou por comer a horas diferentes das habituais. «Há muitas vezes esta contradição entre a tradição, o que se diz e aquilo que os pais sentem que está certo. Dou-lhe um exemplo: os bebés pequenos
(até aos dois anos) precisam muitas vezes de dormir com os pais, mas isto é uma coisa que hoje em dia é muito contrariada. E os pais fazem isso [deixar dormir na sua cama] e depois não dizem nada. E quando não fazem, vêm aqui muito preocupados porque os bebés não conseguem dormir», exemplifica. Os bebés são únicos e, para que possam assimilar os hábitos sociais, têm de ser respeitados nas suas diferenças, nos seus timings, no fundo, é preciso conhecer os bebés. «Não se pode forçar os bebés a comer a horas certas quando eles têm ritmos alimentares diferentes, é absolutamente inútil. Há bebés que muito facilmente regulam o seu funcionamento e que começam rapidamente a juntar durante a parte da noite as horas de sono, têm ritmos mais ou menos regulares de alimentação e há outros que não são nada assim», afirma. As diferenças nos bebés são «constitucionais, são características dos bebés, que podem ser muito compensadas pelo ambiente, pelas pessoas que estão á volta, ou podem ser muito agravadas pelo ambiente», explica o pedopsiquiatra. Sobre a criação de rotinas, Pedro C. da Silva concorda que são muito importantes, porque ajudam o bebé a «prever o que vai acontecer», mas reforça que as rotinas de uns não têm de ser as de todos. Sobre as teorias de que é preciso é não ceder aos caprichos dos bebés, porque senão nunca vão aprender a comer, a dormir, a ficar sozinhos, a ser independentes, apresenta uma imagem diferente. «Bom, isso parte do princípio de que os bebés nascem cheios de coisas horríveis dentro deles, cheios de manhas e que o que é preciso é endireitá-los, corrigi-los, de que é preciso não dar mimo a mais. Podemos aqui, usando uma imagem simples, dizer que há depósitos que os bebés têm de encher primeiro para depois poderem tranquilamente estar sozinhos. Para isso é preciso desenvolver na cabeça capacidade para os bebés pensarem e lembrarem-se das figuras importantes e aí podem estar tranquilamente sozinhos», explica. No fundo, pode haver necessidade de criar primeiro uma dependência para conseguir a independência depois. O pedopsiquiatra defende que, no primeiro ano de vida, para além das necessidades emocionais de carinho e conforto, os bebés precisam de ter «experiências de que os grandes os ajudam a aliviar o desprazer. O desprazer pode ser uma dor, fome, aborrecimento ou o sono, mas é aliviado com o apoio dos adultos. Outra experiência que os bebés têm de ter é que têm acção sobre o mundo, sobre os outros, não são apenas sujeitos passivos, mas que conseguem influenciar os outros; têm sucesso quando sorriem e as pessoas correspondem e, quando choram, as pessoas também se aproximam. Ensinar bebés a chorar até ao desespero não é certamente uma das experiências fundamentais necessárias para os bebés», afiança.

Rita Bruno
Revista Família Cristã
Abril 2008

Um comentário:

Maria João Clavel disse...

Boa tarde,

Este blog foi-me aconselhado pelo pediatra da minha filha. Antes demais queria agradecer colocar estas informações a público, pois são muito importantes para nós os pais.
A minha filha dorme connosco. Tento quase todas as noite deitá-la na cama dela, mas ela acorda sempre passadas 3 horas com pesadelos ou mesmo terrores nocturnos. Agora, que já tem 20 meses pede para ir "nanar, cama, mamã!" Como poderei fazer a transferência para a cama dela e respectivo quarto? Tenho receio de não conseguir...

Muito obrigada.
Mª João Clavel