sábado, 28 de julho de 2007

Sono e Bebés Irritáveis

De acordo com o Especialista: «As regras não servem para todos» Pôr um bebé a dormir com os pais é ou não um erro do ponto de vista educacional? De todo, diz Pedro Caldeira da Silva, pedopsiquiatra do Hospital Dona Estefânia. Pode até ser a solução para alguns problemas. O médico dá o exemplo dos bebés irritáveis ou difíceis de acalmar. Dormir com os pais é, por vezes, o caminho para a tranquilidade. Esse é, aliás, um dos conselhos terapêuticos que frequentemente dá quando lhe surgem casos desses. O medo de que os bebés se tornem «mimados» ou cheios de vícios por dormirem com os pais é infundado, esclarece Pedro Caldeira da Silva. «Dormir em família pode ajudar a regular o sono. Os bebés tornam-se mais calmos e os pais mais tranquilos.» Cada bebé é um bebé, diz Pedro Caldeira da Silva, e há bebés que «para se sentirem bem, precisam de dormir com os pais.» Outros não. É por isso que o médico raramente dá conselhos sobre o sono das crianças. «O que eu digo aos pais é: conheça o seu bebé.» Tal como os adultos, «as crianças têm necessidades individuais e características diferentes. Nenhuma regra serve para todas.» Desaconselhar (ou aconselhar!), genericamente, o cosleeping é, por isso, simplista. «Os especialistas metem-se muito onde não são chamados, inclusive na cama dos pais. Há muitas maneiras de adormecer um bebé.»

in "Pais & Filhos"

Consulta de Bebés Irritáveis

Pais&Filhos
Helena Viegas
2 de Abril de 2007

Há bebés que levam tempo a adormecer, choram dia e noite, não gostam de colo, não conseguem acalmar. A pensar nestes casos, a Unidade de Primeira Infância do Hospital de Dona Estefânia criou uma consulta que ajuda pais e bebés a encontrar um equilíbrio.

Bebés difíceis
O choro constante, as birras, a intolerância às mudanças de fraldas, aos horários, às rotinas, ao colo. Enfim, a irritação total. De dia, de noite, a qualquer hora, sem razão aparente. Alguns bebés são assim, mais difíceis do que outros. Os pais desesperam, questionam-se se estarão a fazer algo de errado. Sentem-se impotentes e cansados.
Para estes casos, nasceu, na Unidade de Primeira Infância do Hospital de D. Estefânia, a consulta de bebés irritáveis. Aqui chegados, os pais deixam para trás os conselhos das tias e das avós, os palpites das vizinhas, as idas ao hospital sem que nenhum problema seja detectado. A mãe começa a esquecer as lágrimas de frustração por não conseguir acalmar o seu filho.
Cinco profissionais estão a postos para receber a família: um pedopsiquiatra, uma psicóloga, uma assistente social, uma enfermeira e uma terapeuta ocupacional. Uma equipa de peso, que tem como missão ajudar os pais a detectar as causas do desconforto daquele bebé que consegue, com o seu choro, alvoroçar uma casa inteira.
«Fazemos trabalho de detective, com a colaboração dos pais», explica o pedopsiquiatra Pedro Caldeira. O papel de cada um dos profissionais é determinado pela especificidade do caso apresentado. Um «bebé irritável» pode não gostar de colo por ser demasiado sensível aos cheiros ou aos tecidos, facto que não passa despercebido à terapeuta ocupacional que o observa em contacto com os pais. Mas o choro ansioso de um recém-nascido pode também ser um alerta para a depressão pós-parto da mãe - confirmada pela psicóloga. «É preciso conhecer bem a reactividade de cada bebé. Não há uma receita para todos», diz o pedopsiquiatra.

Pais também sofrem
A consulta de bebés irritáveis funciona desde Janeiro de 2005, na Unidade de Primeira Infância do Hospital de Dona Estefânia. É na Rua 17 do Bairro da Encarnação, nos Olivais, que as famílias podem encontrar o apoio por que tanto anseiam. «Bebés difíceis deprimem os pais», alerta o pedopsiquiatra Pedro Caldeira. Não é fácil gerir o dia a dia de um recém-nascido que chora constantemente, que não consegue regular os ciclos de sono ou de fome, ou que se assusta quando lhe pegam. «É muito complicado, para uma mãe, aceitar que não consegue acalmar o seu bebé. Sente-o como uma declaração de incompetência, culpa-se por, se calhar, não o ter desejado tanto como era suposto», diz Pedro Caldeira.
Na consulta de bebés irritáveis há poucas regras. Cada bebé é único, tem características especiais e é preciso identificá-las para que os progenitores possam adaptar-se ao «seu» filho. Mas há um princípio fundamental: «Há sempre uma palavra de conforto para os pais», garante a enfermeira Maria João Nascimento. Não há «pestinhas», nem «fases que passam» nem «cólicas» como justificações para a resignação.
O atendimento começa com uma entrevista feita pelo/a enfermeiro/a. Apuram-se as causas da vinda à consulta, pergunta-se sobre o contexto familiar e as expectativas são avaliadas em breves minutos. Pais e bebés passam depois para as mãos do médico. É preciso confirmar que o bebé não sofre de nenhuma patologia específica antes de passar à fase seguinte: ouvir o que os progenitores têm a dizer e observar a criança em interacção com os dois.

Delinear estratégias
Um breve questionário ajuda os pais no «trabalho de casa». O objectivo é que conheçam melhor o bebé para, a partir daí, se poder delinear uma estratégia. Saber se ele prefere o leite quente ou morno, se reage melhor à luz ou às sombras, se chora mais quando está ao colo ou deitado, se reclama quando o estão a vestir podem parecer dados irrelevantes. Mas não são. Um bebé que ainda não desenvolveu a noção de equilíbrio pode sentir-se mal ao colo. Outro, mais sensível ao tacto, pode não gostar tanto que lhe toquem, ou necessitar de firmeza nos gestos para se sentir seguro.
Nalguns casos, o bebé pode reagir negativamente às mudanças por si só: não gostar que lhe peguem quando está deitado e vice-versa.
Todo o trabalho da equipa é feito em colaboração permanente com a família. Os técnicos «aparecem como figuras de suporte daquela que é a relação principal», explica Paula Roncon, assistente social. «É preciso não esquecer que os pais são quem melhor conhece o bebé», lembra o pedopsiquiatra Pedro Caldeira.
O resultado do acompanhamento de um caso nesta Unidade passa, muitas vezes, por conseguir que os pais parem para pensar e reorganizar as suas experiências e o conhecimento que têm do filho, de forma a adaptarem-se às suas características próprias. Um objectivo que se alcança, por vezes, em poucas consultas.
Muitas vezes, a irritabilidade tem a ver com a imaturidade do sistema nervoso central do bebé. Há bebés que nascem com uma grande capacidade de auto-regulação, e outros com menos. Para estes últimos, a adaptação a pequenas mudanças de ambiente diárias ou de cuidados, como mudar de casa ou ficar com uma ama em vez de com a mãe, podem tornar-se grandes dificuldades.
Mas a nota que fica é de optimismo. Muitos bebés difíceis tornam-se crianças simpáticas em pouco tempo. Só mais raramente, os bebés irritáveis mostram indícios de perturbações mais complexas. Mesmo assim, a ajuda profissional pode ser uma importante mais valia para todos os bebés difíceis.


Mitos há muitos

Colo: Há que desmistificar a ideia de que o colo vicia os bebés. Sentir a presença da mãe ou do pai, pele com pele, é o melhor bálsamo para um recém-nascido.

Ver e ouvir: Agir como se o bebé não visse nem ouvisse, ignorando o efeito benéfico ou nefasto dos sons, da luz e da cor, impede os pais de conhecerem melhor as reacções do bebé.

Choro: Conhecer o bebé passa por investigar o que o faz sentir-se bem e o que lhe provoca desconforto e sofrimento. Pensar «faz-lhe bem chorar» não ajuda muito.

Gente: Saltitar de ama em ama, de creche em creche e de avó em avó implica uma adaptação constante. A irregularidade na prestação de cuidados pode fazer com que o bebé se sinta inseguro e criar-lhe dificuldades futuras na criação de laços afectivos.

Dormir na cama dos pais: A tese não é consensual, mas o pedopsiquiatra Pedro Caldeira aconselha as mães de bebés difíceis a colocá-los na sua cama. «Há bebés que precisam de dormir com os pais para se sentirem bem. E a natureza explica isso: as crias humanas tinham de dormir acompanhadas para não serem comidas», diz.

Estímulos: Mais do que insistir para que os bebés aprendam coisas, é importante gozar o prazer da relação e dos afectos.

Pais perfeitos: «Pais perfeitos fazem mal aos filhos», provoca Pedro Caldeira. A pensar nos miúdos mais crescidos, o especialista condena a tentação de criar «um ambiente familiar em que não há afectos negativos ou frustração». Na sua opinião, é positivo que as crianças experimentem uma gama variada de sentimentos, o que inclui por vezes odiar os pais, ter medo deles ou sentir-se injustiçado. Negar-lhes essa oportunidade faz com que abdiquem dos seus sentimentos mais autênticos e prepara-os mal para as dificuldades. A vida é assim, alerta o especialista.



Contacto:

Consulta de Bebés Irritáveis
21 851 05 05

Cada vez mais bebés sofrem de depressão

Entrevista a
Ana Luísa Correia
DN Madeira



O pedopsiquiatra Pedro Caldeira diz que é urgente reconhecer que as crianças pequenas podem ter sofrimento psicológico
Pedro Caldeira afirma que não há pais nem filhos perfeitos e salienta não haver receitas para educar uma criança.

Data: 01-06-2007

Apatia, desistência, paragem de crescimento, irriquietude, agressividade. Alguns dos sinais podem parecer normais de uma birra de criança mas na verdade podem ser indicadores de uma depressão.

Segundo Pedro Caldeira, pedopsiquiatra e responsável pela Unidade da Primeira Infância do Hospital Dona Estefânia, as depressão são cada vez mais comuns em bebés pequenos.

Admitindo que pode parecer inacreditável haver diagnósticos de depressão em bebés, ao longo da sua vida profissional, Pedro Caldeira já foi obrigado a lidar com muitas situações. "Há bebés que morrem por desistência", acrescenta.

O especialista explica que é difícil lidar com as depressões na primeira infância, não só para os pais ou cuidadores, como também para muitos profissionais de saúde, já que é uma área "muito exigente do ponto de vista emocional". Por outro lado, a maioria das pessoas esquece-se ou simplesmente não tem em conta que mesmo ainda como recém-nascida, a criança tem já uma vida mental. "É preciso ajudar as pessoas a reconhecer que os bebés podem ter sofrimento psicológico, embora isso não seja fácil de aceitar", admite Pedro Caldeira.

Além das depressões, naquela que é uma unidade de referência no país e no mundo, chegam outros problemas difíceis de lidar. O pedopsiquiatra refere que ao Hospital Dona Estefânia chegam crianças dos zero aos três anos com diagnósticos de perturbações de ansiedade, crianças que não conseguem sinalizar ou reconhecer afectos, com perturbações do espectro do autismo ou da relação e da comunicação.

Além de acompanhar estas crianças, a Unidade da Primeira Infância tem também uma consulta de bebés irritáveis, ideal para receber as crianças mais difíceis e para ajudar os pais antes que desesperem.

Pedro Caldeira diz que é preciso fazer um trabalho de detective nestas situações por forma a perceber porque é que a criança reage de determinada forma, chora em demasia, não dorme ou não come.

Embora admitindo que há bebés que podem ter 'manhas', principalmente quando percebem que determinada atitude terá uma reacção específica por parte dos pais, é necessário ter em mente que, geralmente, as crianças não choram só por chorar e que não é algo como 'excesso de colo'. "É preciso perceber que não há pais nem filhos perfeitos", salienta o pedopsiquiatra. "É importante que os pais pensem na criança como um ser individual que devem conhecer bem", afirma. "Não há receitas para educar uma criança".


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domingo, 22 de abril de 2007

Estado não protege as crianças institucionalizadas

Entrevista a Ana Luísa Correia, DN Madeira, Abril 2007

Deve ser dada a possibilidade de as crianças criarem laços emocionais fora da família.

O pedopsiquiatra Pedro Caldeira defende que as relações 'privilegiadas' devem existir mesmo entre as crianças e funcionários das instituições.
É recomendado que crianças e/ou jovens adoptados possam manter contacto com as instituições de acolhimento onde residiram previamente.





São milhares as crianças e jovens portuguesas que vivem em instituições. À espera de adopção ou por terem sido afastadas temporariamente das famílias biológicas, as instituições onde residem passam a ser o seu lar e os funcionários dos espaços, a sua família. Porém, mesmo que refaçam a sua vida junto de uma nova família ou de regresso às suas origens biológicas, a passagem por estes locais costuma deixar marcas nas crianças. O pedopsiquiatra Pedro Caldeira explica esta situação de duas maneiras. Por um lado, as crianças institucionalizadas podem criar laços emocionais com os funcionários das instituições. Nesta situação o comum é que estes laços sejam totalmente quebrados quando a criança deixa a instituição. Pedro Caldeira sublinha que "a política de cortar completamente com os laços não é nada favorável para as crianças. Para as crianças e para os profissionais basta que saibam que a sua vida passou por ali", acrescenta. A outra situação é ainda mais gravosa e refere-se aos casos em que não se cria qualquer tipo de relação entre as crianças institucionalizadas e os seus cuidadores. Embora possa ser uma atitude entendida como defensiva por parte dos funcionários das instituições, o pedopsiquiatra refere que, contrariamente ao subentendido, a falta de vínculos pode trazer consequências emocionais e psicológicas a longo prazo. "Crianças com vinculações seguras podem ter mais possibilidade de ter relações estáveis no futuro e crianças que estiveram em instituições sem vínculos especiais podem ser familiares com todos mas, pelo contrário não têm uma relação profunda com ninguém", explica. "Isso quer dizer que não diferenciam as pessoas, por isso não se protegem, não têm ideia do que é a segurança". Na maioria das situações, a culpa pode e deve ser imputada ao Estado, que não fomenta a criação de ligações junto das crianças institucionalizadas. "É irónico", sublinha Pedro Caldeira. "O Estado coloca os jovens em situação institucional e continua a desprotegê-los". Além disso, é importante que o tema da institucionalização deixe de ser tabu. O especialista defende que todas as etapas da vida de uma criança são importantes e mesmo a passagem por uma instituição ou família de acolhimento não deve ser vista com 'vergonha' ou como 'um segredo'. "Tem de se deixar de ter esta ideia que as relações têm de ser exclusivas, que as crianças que estão na família não podem ter outras ligações fora, uma ideia que é prejudicial mesmo para as crianças que estão nas instituições." Acima de tudo, o pedopsiquiatra sublinha que a vinculação está já reconhecida como "um dos factores protectores para o desenvolvimento da criança". Mas as mais fortes ligações emocionais não são exclusivas dos progenitores. Uma criança adoptada por ter um forte vínculo com a família de adopção ou, mesmo numa família biológica, o vínculo pode ser mais forte com um avô ou uma tia. "Há muitas maneiras de se fazer a vinculação e não há nenhuma relação que seja absolutamente essencial. Há muitas maneiras de reparar perdas e isto quer dizer que nenhuma criança está condenada à partida porque pode haver uma fatalidade, mas há sempre maneiras de recuperar...", explica Pedro Caldeira. Além disso, estas relações privilegiadas também são importantes quando estabelecidas com os profissionais de saúde. O diálogo melhora, as desavenças diminuem e mais facilmente as pessoas aceitam e cumprem um tratamento médico, por exemplo. Acima de tudo é necessário incutir no todo da sociedade uma atitude orientada para a vinculação, quebrando o isolamento a que a maioria das famílias estão votadas actualmente. O pedopsiquiatra alerta ainda para o facto de que "os equívocos que se criam quando o Estado aparentemente arranjam soluções para proteger crianças e no fundo as colocam em situações de relação artificial, têm de ser denunciados e evitados".
Ana Luísa Correia
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